Hermes Leal é goiano e jornalista com pós-graduação pela USP, e autor do livro"Quilombo - Uma Aventura no Vão das Almas". Nessa obra, ele descreve o Quilombo do Kalunga, o único remanescente com todas as características próprias de um quilombo. A história mergulha num universo mítico, revelando lendas e religião diferentes dos modelos que conhecemos.
Quilombos eram os lugares escolhidos pelos negros para escapar da perseguição e da morte nas mãos dos senhores de escravos. Com o advento da Lei Áurea, em 1888, os negros foram considerados livres. Mas aí, começaram a serem vítimas do racismo, da segregação e do desprezo.
A narrativa é, na realidade, uma descrição apaixonante de um povo que há séculos habita a região, quase ao lado de Brasília e, ao mesmo tempo, distante de nossa civilização. A insipiência dos Kalungas dá-lhes a grandeza e a imponência semelhantes a seres extra-terrestres, por sua sabedoria e conhecimentos, embora rudimentares.
Eles possuem aquilo que nós, civilizados, nunca teremos - a liberdade no seu mais amplo e pleno sentido. Liberdade de viverem sem regras sociais, de banharem-se nas águas despoluídas de um rio, de alimentar-se do que pescam, plantam e colhem, de amar e serem amados, sem atrelar-se a hipocrisias de falsos gurus ou conviverem com demagogias de falsos políticos, de nada deverem a ninguém e de ninguém necessitarem para sobreviver.
Para os Kalungas, basta o passado de sacrifícios e sofrimentos vividos por seus pais e avós. Com certeza, não sofrem o stress pelo trânsito enlouquecido, pela vida dura e sedentária, pela azáfama da cidade grande, pela insegurança constante que a instabilidade econômica proporciona aos trabalhadores brasileiros, pela fome, pela falta da educação, pelas doenças.
Atualmente, os negros do Kalunga estão restaurando a sua cidadania. Por outro lado, porém, estão perdendo terreno para a ambição da sociedade moderna que já saqueou todos os recursos intocados de vida natural. Hoje, o quilombo está sendo invadido por todas as formas de perigo.
Esta obra de Hermes Leal tem por objetivo contribuir para que sejam tomadas providências governamentais imediatas com a finalidade de resguardar a integridade dos quilombos.
Já li este livro há algum tempo. Mas até hoje, ao recordar do que li, vem-me à mente reflexões sobre a essência do ser humano, sua natureza e sua busca constante de um porvir melhor e mais próximo de Deus. Que possamos sempre como os Kalungas faziam à noite, olhar as estrêlas e orar pelo que acreditavam ser seu Criador.
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