Lúcia caminhava pela rua quase às escuras. Uma lâmpada de luz fraca e nebulosa bruxoleava por sobre seus passos, fazendo-a ver muito pouco por onde andava. Caminhou muito. Parecia-lhe que o fato de andar assim sem nexo, dava a sensação de que conseguiria escapar de algo que muito lhe incomodava. O que seria? Não queria pensar nisso, nem tampouco, na verdade, saberia dizer do que tinha tanto medo.
Apenas de um nome ela lembrava - Mariano. Quem era Mariano? Quando inquiria sobre isso, sua cabeça parecia estourar. Doía-lhe lembrar que fora ele que a havia deixado nesse estado. Caminhou outro tanto por ruelas e becos até que seus pés já não podiam mais suportar o peso de seu corpo. Sentou-se no chão e adormeceu.
A luz acordou-a de uma letargia que nunca havia sentido antes. Alguém desconhecido estava ao seu lado falando, falando, dizendo coisas que ela não entendia. Tentou levantar-se mas caiu no solo, ruidosamente. Pessoas nunca antes vistas, tentaram ergue-la e, assim, foi levada àquele lugar.
Parecia-lhe ser um hospital, pois traziam-lhe algo como uma sopa para beber. Ingeriu o caldo e gostou. Porém, em seguida, adormeceu. Não soube quanto tempo havia passado, quando sentiu alguém tocando em seu braço com muito cuidado. Abriu os olhos e, pasma, viu sua avó que há muito tempo não via. Ela abraçou-a e, sorridente, chamou-a pelo nome. Sentiu tanta paz naquele abraço. Emocionou-se e chorou copiosamente.
Como podia ser sua avó, se ela já havia morrido há tanto tempo? Estava tudo tão estranho.Olhou em volta e viu que estava em uma cama alva e limpa. Pela janela, o sol entrava e aquecia generosamente aquele quarto.Tentou sair da cama e sua avó conduziu-a à janela onde viu o jardim mais belo de toda a sua vida. Havia variedades mil de flores que exalavam um perfume delicado e inebriante.
Uma enfermeira entrou no aposento e levou-a a passear no jardim. Encantou-se com os pássaros e o tapete verde das relvas e as cores das flores e seu perfume. Parecia o paraíso. Deu-se conta de que nunca havia estado naquele lugar e, virando-me para a avó, perguntou-lhe onde estavam.
Ela, sorrindo, lhe disse tratar-se de uma colônia espiritual situada acima da cidade onde moravam.
Então, teria ela morrido? Mas como, se há pouco andava sem rumo, caminhando na noite escura? Sim, ela havia desencarnado e, agora, era um espírito tal como sua avó. E como seria a vida na espiritualidade? Sentia-se completamente viva, como antes fora. E Mariano? Como estaria? Onde estaria?
Agora, já não se sentia mal pensando em Mariano. Sentia-se bem, recomposta e até feliz. Aprenderia muita coisa com a ajuda da avó.
...
Hoje, depois de algum tempo na espiritualidade, Lúcia prepara-se para uma nova vida. Aprendeu muito, perdoou Mariano e espera seu regresso à pátria espiritual. Dentro de alguns anos, ela receberá Mariano como sua avó a recebeu. Poderá perdoá-lo olhando-o nos olhos e dirá que ainda o ama. Mariano também lhe pedirá perdão pelos erros cometidos e, arrependidos de tudo o que houve entre eles, cairão nos braços um do outro e serão felizes na eternidade.
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