quarta-feira, 15 de agosto de 2012

E O FEIO TORNOU-SE BELO




“Na roda de amigos, entre uma cerveja e outra, o marido conta com entusiasmo sua mais nova aventura extraconjugal. Não é culpa dele afinal, ser um sedutor incorrigível. Os amigos o saúdam, entre risos. Na casa de umas amigas, a esposa, que já estava a par do caso, conta-lhes a vingança que estava preparada: ao chegar em casa, o infiel se depararia com outro homem ocupando o seu lugar na cama, ao lado dela. As ouvintes a aplaudem, dando-lhe parabéns por sua trama maquiavélica.

Neste mesmo instante, em casa, o filho mais velho do casal postava em seu perfil no Facebook,  fotos da festa a que fora no último fim de semana, nas quais aparece sendo carregado, inconsciente, por companheiros menos alcoolizados. Poucos minutos depois, haveria um número recorde de amigos que "curtiram" a postagem e deixariam comentários, a bem dizer, elogiosos. E tudo o que era, em tese, condenável, acabou sendo tratado como ação louvável e digna de aplausos.

Vivemos, hoje, o fenômeno da inversão de valores. O nosso lado mais sórdido e mais primitivo está a ser o mais aplaudido. Nas músicas, nas novelas, no cinema, nossos erros parecem estar se convertendo em motivos de orgulho. Não é raro ouvirmos de alguém que fala sem disfarçar a vaidade: "Sou vingativo como meu pai", aparentando não se dar conta de que fala a respeito de um defeito de seu ancestral.

A infidelidade, a violência e o destempero são tão exaltados na mídia que começamos a nos sentir honrados ao admitirmos que possuímos tais características; ao passo que à fidelidade, à mansidão e à prudência foi atribuído um rótulo de fraqueza, de covardia e, até mesmo, do célebre "falso moralismo", uma vez que as correntes de pensamento modernas tratam como hipócrita qualquer demonstração de restrição moral.

A "malandragem", outrora termo pejorativo, hoje é o atributo dos vencedores, de quem fica por cima, e é defendida sob máximas falaciosas e cínicas que se tornaram moda: "quem não engana é enganado", "todo mundo é corrupto", "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão"...
Enfim, nossas misérias humanas e nossa capacidade de sermos maus e baixos parecem ter graça. De repente, nossos defeitos se tornaram qualidades, sem uma explicação coerente para isso.

Nas escolas, os jovens riem da ingenuidade de professores que aceitaram trabalhos plagiados, ou que não perceberam que estes "colaram" nas provas. Maior motivo de chacota porém, são os colegas que não foram às festas porque passaram horas estudando e, ao fim, tiraram notas semelhantes; aquela minoria, formada por colegas que só pensam em estudar, que não fazem baderna, que não participam de festivais de promiscuidade nas "baladas", recebe mil alcunhas e deboches.

Qualquer semelhança com o comportamento de pais que enriquecem à custa da exploração do trabalho alheio, ou da credulidade do seu empregador (aquelas horas extras que foram declaradas em número "levemente" superior ao real, aquele pequeno desvio do dinheiro da empresa) e debocham dos companheiros que não o fizeram terá sido mera coincidência?

Em nosso tempo, nada contra a corrente aquele que defende a ética, a dignidade, o respeito. É preciso ter muita coragem para andar na contramão do mundo e permanecer fiel a valores que são tachados de retrógrados e inúteis, pois o que antes era feio, subitamente tornou-se belo, e quem não se adaptou a esta mudança, costuma ser o estranho do ninho. Ainda assim, talvez,  a sociedade, em breve, tenha forçosamente de se perguntar o porquê de todo o progresso global e todo o avanço nas mais diversas áreas se dever aos "chatos" e "certinhos" que, apesar de rejeitados, ainda movem o mundo.”

                                 
                                Liziê  Moz  Correia
                                       Estudante
            Artigo publicado em Zero Hora, em 13/08/2012.


16 comentários:

  1. Minha amiga! Que texto maravilhoso! Assino embaixo e aplaudo de pé! Quiçá, no dia em que as pessoas se derem conta desta inversão de valores, sobre alguma coisa ou alguém pra ser salvo...... Obrigada pelo carinho e pelo comentário gentil!
    Posso pedir teu voto pra minha gatinha
    Praguinha Nenê, que está participando
    do 6º Concurso Animal Virtual e já está
    lá no blog?
    Quinta e sexta-feiras iluminadas!
    Um abençoado e feliz final de semana!
    Abraço fraterno e carinhoso!
    Elaine Averbuch Neves
    http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com.br/

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  2. Quanta verdade nesse texto, Maria!!! Excelente!!! Parabéns pra Liziê, que escreveu , e pra vc, que teve a bondade de compartilhar conosco essas palavras!!! Bjs e um ótimo restinho de semana pra vc e sua família!!!

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  3. Bom dia amiga,postei em meu blog algo semelhante, foi sobre a sordidez em que se vive hoje em dia, novelas de sucesso são as que mostram mais o sórdido. Enfim...!
    Amei o texto e concordo com a autora, os "rejeitados certinhos" ainda movem o mundo, são os que realmente têm valores, são os corajosos, os que vão em frente lutando contra a "maré" da hipocrisia!
    Abraços
    Ivone

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  4. Essa é a versão real de uma pessoa que está antenada, gostei muito da sua exclamação que para muitos leitores seria uma contramão da realidade. Gostaria de saber sobre essa estudante, qual é a sua graduação, para parabeniza-la. A você parabenizo também por está antenada com as atuais realidades do nosso mundo globalizado.
    Abraço

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  5. Uma interessante reflexão da sociedade atual.Penso que, com certeza , como ela outros jovens já perceberam para onde as coisas irão e acredito que as novas gerações farão o movimento de repúdio que revitalizarão os valores morais que nos têm mantidos vivos ao longo da história.Um abraço

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  6. Boa tarde!
    Estou sumida desse mundinho, mas hoje como tive um tempinho,resolvi deixar algumas postagens minhas programas e te fazer uma visitinha.
    Infelizmente o mundo tá perdido, como diz o meu marido.E não sabemos onde vai dar td isso.
    Eu tb ainda me surpreendo com certos comportamentos e atitudes de algumas pessoas.O que sempre foi "condenado" pela sociedade, hoje em dia fica parecendo normal.Vejo jovens se vangloriando por beber até cair e postando isso como se fosse um troféu.Pessoas se achando espertas por passar outras p/ trás..... ou seja valores totalmente invertidos.
    As vezes me ponho a perguntar:
    Será que com o progresso, em alguns aspectos não regredimos?
    Será que essas pessoas se acham tão espertas, a ponto de pensar que td acaba aqui?
    Ainda bem que nesse mundo, tb habitam os "chatos" e os "certinhos"!
    Graças a Deus!
    Parabéns a redatora do texto e a vc por trazer sempre conhecimentos e aprendizados p/ todas nós.
    Beijos regados de luz p/ vc!

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  7. +e como dizes, estamos com inversão de valores, mas infelizmente os valores já não são transmitidos ás nossas crianças como antigamente
    beijinhos

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  8. Olá, fico aki pensando nos filhos que temos expostos a tudo isso, por mais que eduquemos, as tentações do mundo lá fora são muitas, só nos resta pedir a Deus sua proteção, por que de fato a inversão de valores é uma epidemia! Bjoooossss

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  9. Estimada, Paraguassu
    A vida, é um teatro, aonde cada um representa a sua Cena. Os prazeres da vida, são as tentações aos bons costumes. Cabe a cada um de nós,nominar e normatizar, qual papel representaremos, nesse teatro do absurdo.
    Fenomenal, a sua postagem.
    Parabens, parabens, mesmo.
    Felicitações, minha.-

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  10. Pois é, amiga Paraguassu, a jovem Liziê fez um apanhado bem real do comportamento do homem contemporâneo. Sabemos, que se fôssemos espíritos mais evoluídos, provavelmente não teríamos reencarnado na terra, planeta de expiações e provas. Um abração. Tenhas uma boa noite.

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  11. Mais um texto divino, digno de aplausos. Mais um que levo daqui, Maria, porque merece ser lido por muitos...
    A sua sensibilidade em escolher os textos que coloca aqui é de se admirar. Aprendo muito nas leituras deste blog...

    Um beijo amiga querida!!!

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  12. Olá!
    Eu sou Liziê Moz Correia, tenho 19 anos, sou estudante de Direito na Unisinos e sou a autora deste texto. Agradeço à administradora deste blog por ter postado o meu artigo e tbm aos comentaristas pelos elogios e as opiniões emitidas. Escrevi com a intenção de proporcionar uma reflexão aos leitores, uma vez que no mundo atual tudo acontece tão depressa, estamos sempre atarefados e não paramos para para pensar sobre a sociedade e nossas próprias atitudes. Creio que a inversão de valores que vivemos não pode passar despercebida, sob pena de rompermos as bases que sustentam a vida social.
    Há um outro artigo meu no Blog do Leitor, da Zero Hora: "A dor na sociedade do espetáculo", publicado em 11/07/2012. Poderá ser de interesse.
    Abraços e, mais uma vez, muito obrigada.
    L. M. C.

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    1. Olá Liziê,
      É um grande prazer conhecê-la, embora virtualmente.
      Parabéns pelo seu artigo que, além de me interessar e encantar, também suscitou, em meus leitores, este tipo de sentimento.
      Você não precisa me agradecer, pois quem deve dizer muito obrigada sou eu, por ter tido a felicidade de colher seu texto de um jornal de grande circulação nacional e internacional.
      Já busquei seu artigo do dia 11/7/2012 e, numa futura oportunidade, o postarei com muita satisfação, pois é tão ou mais precioso quanto este aqui postado.
      Desejo que tenhas muito sucesso em seu Curso de Direito e que você continue nos brindando com seus geniais escritos.
      Grande abraço.

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  13. Belíssimo texto, coerente, sensível, verdadeiro! Parabéns à amiga Paraguassu e a autora "jovem e talentosa" Liziê!

    "Ainda assim, talvez, a sociedade, em breve, tenha forçosamente de se perguntar o porquê de todo o progresso global e todo o avanço nas mais diversas áreas se dever aos "chatos" e "certinhos" que, apesar de rejeitados, ainda movem o mundo.”

    Aplausos!!!

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  14. Nossa......esperei mais de três anos para ler um texto desse.

    Meu mais sincero obrigado do funco do meu coração.

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  15. a inversao de valores,ja nada e como era as pessoas est do avesso
    beijinhos

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